19/07/2013

Sobre a vaidade da mulher brasileira / Über die Eitelkeit der brasilianischen Frau

Por Albany Estrela Herrmann*

Meninas! Temos que admitir que não existe mulher mais vaidosa no mundo do que a brasileira. Independente da faixa etária, nunca estamos satisfeitas com a nossa aparência física. Ser mulher não é tarefa fácil! São muitas coisas para cuidar de uma só vez: dietas constantes, malhação na academia, Pilates, musculação, depilação, manicure, tratamentos de cabelo diversos e etc…

Quando assisto TV a cabo (brasileira) e me deparo com as bailarinas de determinados programas de auditório, penso: - Elas mais parecem gorilas de saia! Que pernas enormes e musculosas demais! Sem falar no silicone que quase todas usam… (No judgement!). Eu não acho bonito ficar parecendo a filha do King Kong e malhando com cargas pesadíssimas para manter este visual! Prefiro pular corda, fazer caminhadas na praia, subir e descer as escadas do prédio várias vezes a pé e procurar evitar exageros…

Muitas de nós temos um skinny jeans no fundo do armário que não cabe mais; nem em pensamento, mas que continuamos guardando e alimentando a esperança por dias mais magros em que ele vai caber de novo. E como num passe de mágica (plim!), ele vai fechar e eu não vou desmaiar na rua sem poder respirar…

Num balanço geral, toda mulher brasileira é vaidosa sim! Umas pouco e outras muito. Ser mãe, tia ou avó ou o fato de estar um pouco acima do peso, não são motivos para se andar por aí como um Bigfoot. Eu acho muito legal aquela velhinha que não sai de casa sem um batonzinho nos lábios ou que sempre vai fazer as unhas no salão…

Todo ano quando vou visitar a minha família no Brasil, me deparo com novas técnicas ou com uma nova nomenclatura “belezal” que ainda não conhecia: escova de cristal, de chocolate, japonesa, marroquina, progressiva, inteligente, banho de queratina, banho de lua e por aí vai…Fiz uma listinha de cuidados de beleza femininos que me chamam a atenção tanto no Brasil quanto na Alemanha. Dedico este post ao público feminino! Vamos lá:

1 - Raspar ou depilar as axilas

Julia Roberts e o Movimento Hippie que nos perdoem, mas uma “raspadinha ou depiladinha” semanal ou mensal, é fundamental. Ninguém gosta de sair com uma pessoa que tem o apelido “suvaquinho de cobra”. É uma questão visual-estético-odorífera…



Agora falando sério e falando um pouco de etimologia lexical: Trata-se aqui de uma expressão usada antigamente, alterada da frase original “mais sovado do que buraco de cobra”, dando-se a entender que o entra e sai da cobra em seu buraco, deixava o solo sovado. Como cobra não tem braço, o “suvaco de cobra” passou a significar hoje em dia uma coisa (ou lugar) muito feio, pobre, absurdo ou estranho e que não se vê normalmente.

2 – Pernas, sobrancelhas e buço cabeludos

Nem mesmo os famosos escapam, como vimos no item 1. Aqui podemos ver a filha da Madonna que mais parece o bebê mau dos Simpsons:

Nem vou colocar fotos da área do biquini (Bikinizone) para não chocar vocês. As imagens podem causar pânico, náuseas e tonturas em algumas pessoas...

3 – Peito caído sem sutiã

Muitas europeias não são chegadas a usar um sutiã. Já vi inúmeras vezes mulheres assim no verão europeu. Depois de uma certa idade e estilo de vida, a lei da gravidade é fatal! Eu particularmente preferiria mil vezes um sutiã apertado, mas que colocasse as “coisas em seus devidos lugares”.

Existem tantos modelos legais no mercado que até valorizam um outfit. Outra coisa é que na Europa faz frio e ninguém gosta de ficar andando pelas ruas “de farol aceso” o tempo todo. Verdade ou mentira? Quem está com tudo em cima, tudo bem… Mas assim é muito feio. Como diria uma tia minha: - Bolas de gude dentro de uma meia-calça!


4 – Algumas mulheres usam, mas é assim:

5- Unhas

Adoramos fazer as unhas! Parece que o esmalte nas unhas tem o poder de levantar a nossa moral. Incrível como uma coisa tão simples, causa efeitos benéficos no mulherio do Brasil varonil...

6 – A nossa eterna luta contra a balança

Nosso dilema! Festinhas de fim de ano, festas de aniversário, almoço ou jantar de negócios... O que não faltam são oportunidades para que se saia da “linha”. Principalmente no inverno, adquirimos uns quilinhos que com o passar dos anos são bem difíceis de se perder... Mas cá entre nós, viver se privando das coisas gostosas da vida o tempo todo é horrível...

Qual é a mulher que nunca ficou de mau humor porque está de dieta e em vez de comer aquele bifão suculento tem que se contentar em roer uma cenoura crua? Ou comer toneladas de alface acompanhado de uma garrafona de água?

Quem quer ser bonita tem que sofrer - diz o ditado alemão (wer schön sein will, muss leiden). Em termos, eu diria... Eu procuro fazer uma mistura saudável entre o famoso “pé na jaca” e dietas para “correr atrás do prejuízo”. Com o passar dos anos temos que suar muito mais para perder muito menos. Isto é fato! Uma coisa que eu costumo fazer aqui na Alemanha é deixar o carro em casa e usar a bicicleta. Economizo na gasolina, deixo as pernas durinhas, não preciso pagar estacionamento e etc...


7 – Verão chegou! Alarme anti-celulite!

Geralmente quem está acima do peso também sofre deste problema. Celulite em alemão se chama Orangenhaut (pele de laranja), por causa daqueles furinhos na casca da laranja. Existem muitos cremes a base de cafeína que prometem mundos e fundos. Eu acho que o único remédio é fechar a boca e emagrecer mesmo. A gordura em excesso vai embora levando com ela a celulite.

Já ouvi dizer que existem tratamentos com ultrassom localizado que acabam com as células de gordura localizada. Não conheço ninguém que já tenha usado isso e comprove. Eu continuo achando bom demais para ser verdade... Existem também as injeções que derretem gordura...

Outro dia vi um vídeo no youtube de uma doida que comprava um kit destes nos USA e aplicava na barriga para dissolver a gordura. Li que o princípio ativo destas injeções é uma enzima da soja. Bem, o que não falta no Brasil é soja (até exportamos ela), né? E por que pouca gente usa isso no Brasil?

8 – Marombada demais

Já falei dos programas de auditório logo no início deste post... Bem parecido com esta foto abaixo. Quando a mulher fica mais forte do que o próprio parceiro é muito estranho. Este visual “triângulo invertido”, assusta muito homem por aí. Como tudo na vida, há quem goste...


9 – Bumbum tridimensional


O bumbum sempre foi a mania nacional e acho que sempre vai ser, mas convenhamos que o povão está perdendo a noção de estética... Nem sempre mais, é melhor!!! Que coisa horrível! Eu conheci uma pessoa que fez isso injetando um líquido deveras duvidoso. E foram litros e litros para chegar a este tamanho! Eu lembro aqui dos escândalos com o silicone líquido. Lembram daquelas pessoas que injetaram isso no peito, rosto, bunda e etc? O silicone correu pelo corpo, causou rejeições e inflamações!

10 – Tratamentos de beleza no Brasil:

Uma coisa é certa, se você quer mudar alguma coisa em você, seja lá o que for; faça por você e não para agradar alguém. Existem tratamentos menos invasivos, alternativos e para todo tipo de bolso e conta bancária. Todo médico deve ser sincero quanto aos desejos absurdos de algumas pacientes. Nem tudo serve para todo mundo e nem tudo fica bem em todo mundo.

Tudo aquilo que te incomoda, desconforta ou aquilo que podemos melhorar, é válido! O propósito da cirurgia plástica é melhorar a qualidade de vida das pessoas, então se joga! 


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E obrigada por visitar meu blog!!!

*Professora de Português para Estrangeiros na VHS de Stuttgart, Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.
 

12/07/2013

Coisas que só acontecem comigo - Parte II

Por Albany Estrela Herrmann *
Como já comentei aqui uma vez, existem coisas que só acontecem comigo... Muitos leitores me perguntaram em off se era verdade o que tinha escrito ou se tudo fora pura e simples imaginação. Resposta: - Pior que foi tudo real! 

O post anterior foi muito comentado e por isso resolvi dar uma continuação a esta temática, elaborando uma Parte II. Afinal, o que não faltam para mim são mais “causos” e situações hilárias para dividir com vocês! Voltemos aos meus tempos de aluna na Alemanha:

1 – Fazendo um bico na casa de uma espanhola

Como não tinha muita grana, estava sempre fazendo alguns bicos aqui e acolá para ganhar um extra. Um deles foi o de passar roupas na casa de uma espanhola que era casada com um alemão. Ela e o marido saíam para trabalhar e eu ficava fazendo o serviço (como na casa da Nina Ninja do post anterior). A mulher, querendo me agradar, colocava uma fita cassete „jurássica” com músicas brasileiras que ela tinha ganhado de não sei quem (provavelmente um amigo da onça). 

Até aí tudo bem, mas o problema é que as músicas eram mais uma tortura sonora do que propriamente um agrado. Do tipo: Eu não sou cachorro não… Pra viver assim tão humilhado!!! Eu aguentava a tortura calada (método eficiente de tortura digno de ser incluído no Bope) e me imaginava uivando igual a um cachorro que tem dores nos ouvidos. Assim que ela deixava o apartamento, eu desligava imediatamente o aparelho… Ufa!

Lá estava eu, passando um milhão de camisas de mangas compridas do marido da espanhola, pensando na vida e meditando. Chamo meu método de “meditação produtiva” e enquanto medito, limpo a casa, passo roupas e etc… A espanhola era bem sangue quente e o marido dela estava cheio, digamos, de "más intenções" para o meu lado. Eles deixavam o apartamento juntos e cada um seguia para o seu respectivo trabalho. O problema é que ele sempre voltava depois de mais ou menos uns 15 minutos com a desculpa que tinha esquecido alguma coisa. Eu fingia que não estava percebendo o que ele pretendia… Pensava: - Esta estória vai acabar dando m… E deu!

Um certo dia, a espanhola esqueceu mesmo alguma coisa e retornou ao apartamento. Deu de cara com o marido tentando me passar uma conversinha - pela enésima vez. Nem preciso dizer que o “bicho pegou”.  Me despedi ainda ouvindo da porta os berros da mulher e vendo o marido petrificado sem dizer uma palavra. Nunca mais voltei lá… Descobri depois de um tempo que ela tinha contratado uma outra brasileira bem mais velha do que eu e que não apresentava nenhuma “ameaça” para ela.

O marido da espanhola voltando...

2 – O conde alemão

Fui convidada para uma festa de aniversário de uma brasileira que conheci no clube da cidade. Chegando lá, conheci outras brasileiras amigas dela. Uma delas estava trabalhando de Aupair na Alemanha. A aniversariante apresentou a Aupair para um conde e a menina já estava com os símbolos de dólar no olhar $ $. Jackpot - pensou ela! Lá pelas tantas da noite, ela sentou do meu lado no sofá e puxou conversa:

Ela: - Você tinha coragem de “encarar” ele? Ele é rico!

Eu: - Sabe o que é… Dinheiro não é tudo na vida…

Ela: - De „cara limpa“ não dá para encarar não! Ele é muito velho...

Eu rindo: - Bem, conheci meu namorado no Brasil quando ele era estudante de intercâmbio na universidade que eu estudava e não me interessava pela conta bancária dele, mas se você quer casar para tirar o pé da lama... Vai que é tua, Taffarel!

Ela: - Vou mesmo! 

Depois de um tempo, o conde sentou do meu lado e também puxou conversa, pois muitas brasileiras não falavam Alemão ou falavam bem pouco. Ele estava se sentindo super deslocado, pois também não falava Português…

Ele: - Você conhece a X? (Para não falar o nome)

Eu: - Eu a conheci hoje.

Ele: - Pois é, ela é uma menina tão bonita, mas tem um problema com álcool. Que pena! Toda vez que eu convido ela para sair, ela bebe demais! 

Original em alemão: - So ein hübsches Mädel, aber sie hat ein Alkoholproblem! Schade! Jedes Mal wenn wir ausgehen, trinkt sie viel zu viel…

Eu penso: - Mal sabe ele qual era o „problema“ dela… 


3 – Encontrei uma brasileira na sala de espera do dentista

Existem duas coisas que eu cuido demais da conta em mim: dos meus cabelos e das minhas “canjicas”. Ter um sorriso bonito e branquinho já é meio caminho andado em se tratando de beleza física, pelo menos na minha opinião… Fui fazer um exame de rotina no dentista e estava na sala de espera lendo uma revista, quando passou uma brasileira. Ela já estava de saída, mas entrou na sala e começou a conversar comigo.

Ela me contou que esteve muito doente com câncer de mama, que tinha feito quimio e antes que eu pudesse fazer ou dizer qualquer coisa, do nada… ploft! Ela levantou a blusa e mostrou tudo que tinha direito como se fosse algo totalmente normal. 

Penso: - O que fiz de errado para ser esta “parabólica de malucos”? Isso só acontece comigo! “Estupro visual” é brincadeira!!! Ninguém merece...

No exato momento do taaa-daaa dela, passou um enfermeiro pelo corredor e vendo a cena, voltou de marcha ré para se certificar do que tinha visto…


4 – A festa internacional de rua

Uma vez por ano acontece uma festa internacional de rua com barracas de vários países perto de onde moro. Uma boa oportunidade de comer algumas comidas típicas, ouvir música brasileira, conhecer gente e sair um pouco de casa - pensei. Conheci uma brasileira, conversamos bastante sobre assuntos diferentes. Pareceu-me ser bem simpática até um certo momento. Depois de muitas caipis, cervejas e outras bebidas, ela me pergunta se eu já tinha ficado com uma mulher antes. 

Eu penso: - Epa, tava bom demais para ser verdade… Falo: - Não é a minha praia não.

Ela veio com a famosa frase, típica de quem está tentando te convencer a passar para “o outro lado da força”: - Como é que você vai saber se nunca provou?

Eu: - Vou ser sincera… Eu gosto de homem e de homem. Meu „hardware“ e meu „software“ estão programados assim. Meu lema é: - „Never change a running system“…

Ela: - Ah, que pena! Pensei que você também estava interessada…


5 – A namoradinha de um amigo meu

Está certo que o amor nos deixa cegos, mas que também pode deixar-nos mudos, surdos e restardados é demais! Um amigo meu conheceu uma mulher no Brasil quando foi de férias e ao retornar disse estar apaixonado por ela. De vez em quando ele me pedia para ajudá-lo traduzindo as cartas e emails que ela enviava para ele. 

O problema é que ela começou a pedir dinheiro para ele insistentemente. Eu resolvi alertá-lo dizendo que uma mulher honesta jamais faria isso, mesmo necessitando muito. Além disso, eles nem se conheciam direito! Ele não quis ouvir meus avisos e até ficava bravo comigo toda vez que eu tentava abrir seus olhos…

Foram inúmeros presentes via correio, transferências bancárias e meu amigo até trabalhava nos fins de semana para poder ganhar mais e enviar o dinheiro para ela. Eu sabia que o fim deste romance seria triste, mas todas as minhas tentativas de salvá-lo do pior, eram em vão. Depois de conseguir tudo aquilo que queria, ela terminou o namoro com ele dizendo que já estava com outro. Dizer isso numa hora dessas é cruel, mas tive que dizer: - Eu te avisei! Eu te avisei! Tadinho…


6 – O faxineiro pelado

Conheci um rapaz na universidade que estava matriculado, mas não estudava nada. Ele só tinha a matrícula para poder receber o visto de estudante. Como ele não tinha bolsa de estudos e também não recebia ajuda da família, se virava como podia fazendo vários trabalhos temporários - como eu. Depois de muito tempo sem encontrá-lo, eu estava caminhando na rua principal da universidade quando alguém me chamou: 

 - Albaaaany! Não fala mais com pobres não, é!?
 
Me virei e o reconheci logo! Eu: - Nossa! Como você está chique! De jaqueta de couro, celular bacana! Ganhou na loteria?

Ele: - Não! Descobri uma maneira de ganhar a maior grana. Mole, mole, fácil, fácil!

Eu: - Como? Desembucha aeeee!

Ele: - Estou trabalhando agora como faxineiro e não preciso fazer quase nada, só andar pela casa peladão com o aspirador de pó ou limpando vidros.

Eu: - Como é que é? E quem é que você „atende“?

Ele: - Minhas "amigas" ficam sentadas “ no maior voyeurismo” tomando umas e me admirando...

Eu: - Mas você não tem que “pegar na massa” não?

Ele: - Não! Só olhando mesmo… E estou ganhando muito com isso!

Eu penso: Tem doido pra tudo nesta vida… Falo: - Foi bom te ver de novo! Vou nessa, porque tenho aula agora. Tenho que correr! Beijo! Fui!

O faxineiro pelado

                                                               
7 – Distribuindo panfletos na rua

Para ganhar mais uma grana nas férias, encontrei outro bico para distribuir panfletos pelas casas e pelas ruas. O problema é que quase todas as casas aqui na Alemanha têm um adesivo colado proibindo jogar panfletos. O quê fazer? O pior é que eu não estava sozinha! 

Conheci um brasileiro que estava morando na Suécia e estava na Alemanha de visita. Ele também foi contratado para fazer o serviço, mas não falava uma palavra de alemão! Só Deus mesmo! Fiquei com pena do rapaz e escolhi uma rota para ele que fosse bem próxima da minha e eu pudesse fazer as duas rotas junto com ele. Peguei meu mapa e fui à luta. Tínhamos mais ou menos um total de quinhentos panfletos para distribuir durante o dia inteiro. Em todas as casas que batíamos, encontrávamos este (ou um bem parecido) adesivo:
 
O adesivo nas caixas de correio
                                                         
Eu: - Vamos para os estacionamentos dos supermercados e aí colocamos nos pára-brisas dos carros parados… Minha ideia funcionou, mas somente para uma parte dos panfletos. Resolvi ir para as ruas, mas ninguém pegava os panfletos das nossas mãos. Pensei em desistir, mas resolvi enfiá-los assim mesmo, com ou sem adesivo, dentro do máximo de caixas de correio possíveis.

Eu e ele já estávamos mortos de tanto caminhar  e no final do dia nos perdemos e fomos parar dentro de uma fazenda de gado aonde Judas perdeu as meias (porque as botas ele já tinha perdido bem antes dali)… O dono da fazenda chegou montado num cavalo e perguntou o que queríamos ali, mas falava um dialeto antigo que não era o dialeto da região de Baden-Württemberg de onde moro. 

Mesmo aos trancos e barrancos eu conseguia entender tudo que ele falava (benditas sejam as aulas de Minesang e Althochdeutsch que tive durante o curso de Letras no RJ he he he). Ele foi bonzinho e percebeu o desespero nos olhos do meu companheiro de panfletagem. Ele nos mostrou o caminho para sair do mato e encontrar a estrada principal. No meio do caminho, esgotados, com fome e com sede, resolvemos sentar embaixo de uma árvore aproveitando a sombra. 

Eu: - Quantos panfletos ainda temos sobrando?

Ele: - Acho que uns 30 mais ou menos… 

Eu: - Só isso! Até que conseguimos nos livrar de muitos, né?

Ele: - Mas e o resto? O que vamos fazer com isso agora?

Eu: - Vamos cavar um buraco aqui no meio do mato e enterrá-los. É biodegradável mesmo!

Voltamos para receber o dinheiro do político pela propaganda eleitoral que fizemos… Com a grana em mãos, fomos para o alojamento.


8 – A discoteca brasileira

Perto da universidade tinha uma discoteca brasileira. O dono era casado com uma brasileira. Uma vez ele fez um baile de carnaval e convidou todos os brasileiros da região. Eu não pensei duas vezes para comprar uma fantasia de índia. Chegando na discoteca, encontrei várias pessoas conhecidas… 

O carnaval alemão não tem nada parecido com o carnaval carioca que eu conhecia. Começando pelo clima que é super frio, ou seja, as fantasias têm que esquentar e não podem ser muito fininhas não. A minha fantasia de índia era mais do tipo Pocahontas comportada; cheia de roupas, do que do tipo Iracema Tupiniquim de Alencar… 

Os homens aqui enchem a cara mais do que o normal nesta época e fazem coisas que eles normalmente não fazem durante todo o ano: beijar pessoas estranhas na boca, passar a mão em alguém, levantar a saia do mulherio, ter um one night stand e enfim, o que rolar, rolou… Estranho é ver estas pessoas tão controladas, tímidas e distanciadas, se transformarem tanto e saírem por aí pintando o sete (o oito, o nove e o dez também) só por causa do carnaval!
 

9 – O turco dentro do trem

Eu estava a caminho do trabalho, pois tinha que dar aulas de Português em uma empresa… Fui de trem, sentei e comecei a ler uma revista que tinha comprado. Um turco entrou no vagão que eu estava e sentou bem na minha frente. Ele me perguntou: - Você tem namorado alemão?

Eu: - Por quê? Meu celular toca e era o meu namorado alemão (ele falava Português).

Turco: - Fala para ele fazer um filho na minha irmã para ela poder ficar aqui na Alemanha (falando um alemão bem errado e truncado).

Eu para o namorado no telefone e em Português para turco não entender: 

- Amor, tem um turco aqui falando para você fazer um filho na irmã dele para ela poder morar aqui (risos) na Alemanha.

Namorado fala em alemão assustado: - Waaaas? Spinnst du?! Albany, hast du was getrunken? 

Em Português: - O quêêêê? Tá doida?! Albany, você bebeu?

Eu rindo: - Não (risos)! É sério! Ele está sentado dentro do vagão…

Namorado: - Levanta e sai agorrrrrrrra!

Eu: - Já está na hora de descer mesmo... Tchau! E saio correndo sem olhar para o turco…


10 – A aula de Tango

Resolvi ocupar meu tempo livre com alguma atividade nova e útil. Me matriculei em um curso de tango. Chegando lá, como estava sem par, fui apresentada para um alemão também sem par. Este vai ser o seu Tanzpartner daqui para frente! Depois do “oi, como vai, tudo bem” inicial e de praxe, fomos para a pista de dança. Primeiros contatos. Ele, com no mínimo um metro de distância entre os corpos, de braço esticado e evitando encostar em mim. 

Penso: O Tango é uma dança super sensual e não dá para dançar isso igual “polca ou minueto medieval”. Vou ter que me pronunciar...

Eu para ele: - Olha só, ou você relaxa ou eu vou procurar outro par, pois assim está ridículo… 

Engraçado isso! Se o meu par fosse brasileiro, já iria cair “matando” e em cima sem a menor cerimônia: rostinho colado, pegadinha na cintura e aquela “formatada” entre as pernas - como diria um amigo meu... Naquele momento, eu estava me vendo do outro lado da moeda…

Depois da minha “chamada”, ele relaxou e já estávamos dançando bem pacas. Eu continuei dançando com ele por mais dois cursos até que decidi parar por causa da distância e por ter outros compromissos de trabalho. Foram 3 cursos de Tango que amei fazer e se tivesse mais tempo, com certeza, faria outros…


Eu na aula de Tango


Bom fim de semana para todos e até a próxima sexta, neste mesmo bat canal e neste mesmo bat horário... :-) Albany

* Professora de Português para Estrangeiros na VHS de Stuttgart,  Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.