27/02/2014

Sobre os diferentes tipos de professores - Über die verschiedenen Lehrer-Typen

Por Albany Estrela Herrmann*


Estou de volta, gentem! Saudades de vocês e de escrever um pouco sobre as minhas aventuras. Resolvi fazer um texto sobre o meu trabalho (pelo menos um deles). Espero que gostem! Beijos da Estrela *

Quando trabalhamos com diferentes contextos escolares e, no meu caso, com alunos de diferentes nacionalidades, nos deparamos com algumas situações curiosas. O professor passa a ter que se ocupar com diferentes tipos de alunos e tenta aplicar metodologias paralelas em sala de aula para suprir necessidades específicas. Nem tudo funciona com todo mundo, heis a problemática. Nem todo mundo se identifica com todo método de ensino e nem mesmo todo professor tem “cacife” para trabalhar com todo tipo de metodologia…

No Brasil o ambiente educacional é muito mais descontraído do que aqui na Europa e não há esta distância “Grand Canyon” entre o acadêmico e o aluno, a tábula rasa. As relações são muito mais informais, o que leva o aluno a se sentir totalmente à vontade em sala de aula e com o seu professor. Bem, claro que alguns se sentem à vontade demais, prejudicando o andamento da aula, perdendo o respeito, criando as tais das “asinhas”. 

O problema está em saber dosar as coisas e obter uma mistura de clima descontraído e de respeito para transmitir o conteúdo programado. Eu tento trabalhar assim, mas sei que muita gente prefere o sistema: - Você calado já está errado, garoto! Quem é o professor aqui? 

Aquele lance de colocar o professor no papel de semi-deus grego que detém o saber absoluto e que só ele é o detentor do conhecimento, ainda existe. E como! Aqui na Alemanha muitos alunos têm medo até de fazer perguntas, tremem como vara verde se eu chego perto da cadeira deles, preferem ficar invisíveis em sala de aula (se o escudo invisível um dia vir a existir de verdade, vai ser uma invenção alemã com certeza he he he), não gostam muito de sair do lugar onde estão sentados, atividades em dupla só se for extremamente necessário ou inevitável e só se for com alguém que eles conheçam. Eles são muito, mais muito DETALHISTAS, demais da conta, pra chuchu, à beça, de montão, pacas, pra caramba, à vera, de com força (ufa, desabafei)! Ai de tu, jaburu, se você não domina a sua matéria muito bem! Eles arrancam o teu couro e botam no sol pra secar… 

Se o professor não domina muito bem uma temática, pode crer que o aluno vai chegar em casa e só de raiva vai pesquisar na net TUDO que for possível a este respeito e vai, com certeza, continuar testando seus conhecimentos na próxima aula e perfurando a “ferida com um salzinho maneiro”.  Sadismo germânico...

Ninguém é perfeito e ninguém é obrigado a saber de tudo. Eu nunca tive problemas em responder perguntinhas “cabeludas” inesperadas, fora de contexto, ou sei lá, que não estava esperando num determinado momento. Jogo de cintura e conhecimento não me faltam, além de eu ser chatinha pra caramba. Não admito que ninguém me pegue de surpresa… E isso requer de mim horas extras de estudo e o trabalho de imaginar/potencializar possíveis pepinos. Tô pronta para o que der e vier… Veeeenha!

Se eu não trabalhasse como professora, poderia ser atriz, numa boa, sem problemas. Aliás, o professor executa vários papéis em sala de aula. Ele é multifuncional:

Diplomata – escuta com atenção o que os alunos dizem. Às vezes são as perguntas mais idiotas da face da terra! Todos são (ou devem ser) tratados com respeito e educação. As respostas são compiladas dentro do cérebro, passam pelo estômago e voltam para os lábios a fim de serem devolvidas. Um regugitar, um „input e output“ de conhecimentos. E somos nós que tentamos tirar o melhor proveito das perguntas, transformando, ás vezes, num esforço imenso de reciclar algumas coisas que temos que ouvir por aí nestas salas deste mundão de meu Deus. 

Eu levo TUDO na brincadeira. Minha maior arma é o humor. E a ficha acaba caindo… Algumas delas ainda estão rolando por aí sem rumo he he he :)

Animador e humorista – essa sou eu, claro! Professor falante que adora fazer rir e procura prender a atenção dos alunos com alto astral. 
Eu ando pela sala. Dou respostas inesperadas. Escolho uma vítima e faço uma pergunta de um tema anterior. E a adrenalina da galera vai subindo numa mescla de medo e divertimento… Muitos colocam até as mochilas nos corredores me embarreirando e achando que eu não vou me dar ao trabalho de passar por ali. Ledo engano dos tolinhos… 

Nerd – é o professor que saca muito, é muito inteligente, mas não sabe passar a matéria bem. Parece que ele está dando aula para ele mesmo e todo mundo vai embora falando pelos corredores que viajou na maionese na aula do cara ou que dormiu ou que estava escutando música e etc…

Playboy – este é o professor que usa do status dele para sair pegando geral na escola ou na universidade. Tem muito aluno/a que tem a maior tara por conquistar professor, de sair com um cara mais velho. O solteirão playboy se aproveita disso para jogar a sua rede e não está nem aí com os outros estão pensando. Ele abusa da sala de aula como se estivesse em um site de relacionamentos, sem contar que faixa etária vira, digamos, um pequeno detalhe…Mas vem cá, isso não é proibido? Bem… Vamos abafar o caso…

Preguiçoso – o professor que chega sempre atrasado, não sabe mais o que ele deu na aula anterior, manda a boazuda da sala apagar o quadro, um outro fazer a chamada para ele, um outro ir na cantina buscar um café para ele e deixa todo mundo passar de ano sem que ele tenha feito muita coisa. Eu tive uma professora assim na universidade, mas não vou falar o nome, somente vou dar uma pista pra quem estudou com ela:
- Haaaaalloooooo! Haaaaallooooo!

Desastrado – este professor mal entra na sala e deixa cair os papéis da pasta dele, tropeça no batente, se suja todo com o apagador. Erra o horário e a sala que deveria estar. Começa então finalmente a dar a aula quando percebe que já tinha dado tudo aquilo na semana passada e que ele estava repetindo o conteúdo. Programm error… Putz! Foi mal, hein? Sorriso amarelo sem graça…

Atencioso – pergunta sempre se há dúvidas, se precisam de ajuda, circula pela sala para conferir o rendimento da galera, se dedica ao máximo, mesmo sabendo que o salário ó!!! Na verdade, os alunos ficam com pena dele ou dela, pois sabem que o que se investe em tempo, carinho e cuidado em se preparar as aulas não tem o retorno esperado. Ou pela turma desinteressada ou pelo salário que não cobre nem os custos pelo material diário.

Seja lá qual for o seu tipo enquanto professor ou da sua experiência, p. ex. no papel de aluno, uma coisa é clara, não é qualquer um que pode ser chamado de professor. Saber muito sobre uma coisa não significa de modo algum que você está apto a transmitir este conhecimento. E não é só porque você nasceu naquele país e fala esta língua fluentemente que isso te transforma imediatamente em professor. 

Eu acho o fim da picada, contratar quem não tem a menor noção de didática, prática de ensino, gramática e se nomeia professor/a. No mínimo acho isso surreal, ser comparada com alguém que não sabe o trabalhão que é, sem contar a dedicação, de se cursar uma Licenciatura em Letras. 

Engraçado isso, eu não me nomeio dentista, advogada, engenheira, bióloga (e etc…), mas parece que qualquer um pode se entitular professor… Outro dia ouvi um professor universitário dizer que a mulher dele não tinha estudos, mas experiência. Muitas das coisas que nós professores de carteirinha e registro no MEC temos, nos foi transmitida através dos cursos universitários! Quem me garante que um cara que arranca dentes há vinte anos, sabe mesmo o que ele está fazendo? 

E fica dado o meu recado:
 - Nada contra quem quer trabalhar como professor tipo viúva Porcina “o/a quem foi sem nunca ter sido”, mas que reconheçam, pelo menos, o valor de quem é realmente qualificado.

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E obrigada por visitar meu blog!!!

* Professora de Português para Estrangeiros na VHS de Stuttgart,  Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro e Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen, Alemanha.