05/03/2017

Sobre Tempos Modernos/Über moderne Zeiten

Por Albany Estrela Herrmann*
Tempos Modernos também é o nome de um clássico filme de Charles Chaplin que mostra a situação da sociedade escravizada pelo trabalho  nos anos 30. O humor inteligente de Chaplin me fascina e mostra na verdade, através de um protesto disfarçado, como era a sociedade do ano de 1936. Carlitos é um operário e está condicionado a apertar parafusos em uma fábrica. De tanto fazer isso ele acaba louco e passa a apertar tudo a sua frente de forma involuntária. Este tipo de trabalho, burro e repetitivo, esta imagem de se apertar parafusos imaginários como se tocar uma guitarra invisível ficou marcada na minha cabeça. Mas os meus "Tempos Modernos" de hoje são bem diferentes e relatam um outro lado da sociedade moderna em que vivemos: A era virtual.

1 Hoje em dia ter centenas de amigos virtuais virou um certo símbolo de status. Significa que eu sou uma pessoa popular e querida...

2 Excluir, deletar, bloquear ou curtir viraram verbos de uso diário em nossas vidas.

3 Uma pessoa tímida pode encontrar hoje em dia com maior facilidade alguém igualmente tímido e solitário online, conversar com ela, fazer "amigos" ou até mesmo iniciar um relacionamento através destes meios virtuais. Pessoalmente isto já seria muito mais difícil ou até impossível...

4 Mentir para poder promover um marketing pessoal de maior alcance e atraente é o novo colapso entre razão e ética, pois essas "verdades sociais" são apenas "produzidas" e posteriormente veiculadas.

5 A "internetibilidade" atual invadiu as nossas vidas de tal forma que chegou até a nossa intimidade. A censura de outrora virou apenas um critério particular. O sexo virtual, por telefone ou via câmera, é o sexo seguro, sem se expor e sem medo. Os vídeos pornôs e revistas de sacanagem de antigamente, aquelas que os meninos levavam para o banheiro escondido; tornaram-se mais acessíveis através de simples cliques de botão no celular ou no computador. Muita coisa recebeu uma nova roupagem nos nossos tempos modernos, não é? Tipo a palavra "resiliência" que nada mais é do que o nosso bom e velho "osso duro de roer", "o duro na queda" ou o "João Bobo que cai e levanta"...

Os relacionamentos virtuais e sem um envolvimento físico remodelaram as nossas atividades humanas, principalmente as amorosas, o sexo. Todas elas deixaram de ser necessariamente presenciais, passando a usar o molde EAD (Ensino à Distância) e viraram RAD (Relacionamento à Distância). Isto invadiu os nossos quartos, as nossas camas. WhatsApp, Facebook e etc viraram quartos de motel, novos cenários  para o amor e para o sexo. A linha telefônica é o mapa da mina que leva a uma realidade inventada e por nossa mente articulada. Toda hora agora é hora!

Tempo e espaço sofreram redimensionamentos revitalizantes. Isto é inegável! Mas este novo universo tem também lados ruins. Como quase tudo na vida, se faz necessário saber usar de maneira correta. Há, por exemplo, uma preocupação demasiada com a aparência, os Selfies. Tentar se convencer e convencer as outras pessoas de que se é sexy, bonito e desejado, virou moda. Essa sensualidade forçada vem da necessidade de se sentir aceito. O sucesso é algo viciante sim e faz com que essa bola de neve cresça cada vez mais rumo à busca da aceitação em massa. Todos nós queremos ser popular, querido, ter muitos amigos ou ser notado pelas pessoas. 

A nossa era levou à erotização das teclinhas. Não há mais a necessidade quase que obrigatória de uso de camisinha, de métodos anticoncepcionais e nem de nenhuma proteção física. A mídia e seus derivados não podem engravidar ninguém, não contaminam ninguém, mas te viciam! Tudo parece muito natural e acaba virando parte integrante da vida de quase todos nós. Nossa sociedade é sensasionalista como no filme de Chaplin e os nossos modelos de comportamento atuais visam acima de tudo, massagear o ego.

Seja qual for a sua "vibe", o importante é ter consciência de que nem sempre as pessoas são aquilo que escrevem, lêem ou dizem ser. Antes de mais nada, somos matéria. Ao meu ver, nem tudo deve se tornar invisível ao olhos como prega o Pequeno Príncipe, para ser essencial. E nem tudo é etéreo e é captado por WiFi. Sem a carne, o espiríto não pode se manifestar. Ele não pode se materializar! O estímulo às falsas expectativas, de performances mentirosas e de realidades fingidas não pode invadir o nosso coração. Ele pode até saciar por um momento a sede de reconhecimento e de prazer imediato através de um botão, mas aniquila por outro lado o prazer da intimidade à moda antiga. Muitos tornam-se incapazes de dizer ou de demonstrar olho no olho o que realmente sentem. 

Nada! Simplesmente nada, pode substituir o "eu te amo" ofegante dito olhos nos olhos. Um coração batendo disparado e um toque na pele. Um cheiro e um gosto. É importante saber nos dias de hoje, nos nossos tempos modernos, que usar a tecnologia como ferramenta de apoio e facilitadora, é algo bom, mas tudo de forma equilibrada. O distaciamento seguro de nossos tempos não deve nunca substituir o viver de fato... #Fica a dica!

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E obrigada por visitar meu blog!!!

 * Professora de Alemão  (Deutsch als Fremdsprache DAF, com certificado do MEC Ministério Alemão - BAMF-Zulassung) e Português para Estrangeiros (PLE na Universidade de Tübingen),  Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro, Mestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen e Doutoranda em Translation Studies.

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