16/12/2017

Sobre a decepção / Über die Enttäuschung

Por Albany Estrela Herrmann

  
Vou falar agora sobre a decepção no sentido amplo desta palavra... Existem vários tipos de decepção. Podemos nos decepcionar com nós mesmos, com a pessoa que amamos,  parentes podem nos decepcionar, um amigo, enfim, ela pode sempre ocorrer e é uma sensação de culpa misturada com arrependimento por ter permitido que tal coisa tenha acontecido.

É muito comum criarmos expectativas na vida e a decepção pode levarmos a um estado tal de inconformismo que pode fazer com que uma pessoa fique obcecada. O nosso mecanismo mais comum de proteção é o de colocar a culpa nos outros: - Por quê eu? Eu tenho tanto azar! Tudo é uma injustiça divina descomunal e a culpa no fim das contas sempre é dos outros… Nem sempre é… 
A intensidade da decepção é proporcional ao tempo, ao valor e à expectativa que criamos!

1 – Decepção consigo mesmo:
Eu poderia ter estudado Direito, Medicina ou ter alguma profissão que me desse ou um retorno financeiro ou pelo menos um status melhor do que o que eu tenho hoje. 
Burra eu não sou… Por quê fui escolher esse caminho? 
Sabe aquela síndrome do primo pobre e do primo rico? 
Pois é, eu sempre fui a prima pobre…

2 – Decepção com o parceiro:
Vou contar um lance que me aconteceu enquanto adolescente. Fui passar férias na casa de uma tia minha na Bahia. Estava começando a namoricar um menino chamado André. Abri o jogo com ele, que meu pai ia levar eu e minha irmã do meio para viajar e que isso era uma oportunidade ímpar. Se ele quisesse dar um tempo, tudo bem, eu entenderia e um mês era bastante tempo e tal. 
Ele: - Imagina! Por você eu espero até a vida toda! Nada disso de terminar! Eu te espero!

Beleza. Então tá combinado assim. Só que eu fiquei doente na viagem e tive uma inflamação na garganta. Meu pai resolveu voltar mais cedo. Voltamos bem mais cedo do que o esperado.

Eu desci do ônibus ainda com a bolsa de viagem na mão e passei na padaria da esquina para comprar alguma coisa para comer. Nisso que eu vou caminhando para casa, vejo o André de mãos dadas com uma menina passeando todo feliz e no maior love.

Eu pensei que estava vendo miragem, mas apressei o passo para ficar exatamente atrás dele com a garota. Caminhei bem próximo, coisa de um palmo de distância, e uma hora ele resolveu olhar para trás e deu de cara comigo. Quase matei o cara do coração ha ha ha!

Ele soltou a mão da garota na hora visivelmente nervoso. Eu ultrapassei eles e virei  para os dois: - Oi, André, tudo bem? 
Bem friamente… Ele não sabia aonde enfiar a cara.

Cheguei em casa, arrumei minhas coisas, tomei um banho e fiz um café. A campainha tocou, era ele querendo se explicar. 
Eu: - Você não precisa falar mais nada. Eu não quero ouvir nada que você tenha a dizer. Eu só tenho pena da garota que também não sabe quem você é de verdade. Não me procure nunca mais! 
E fechei o portão, decepcionada sim, mas liberta…

3 – Decepção com o amigo/a:
Quando estamos no meio da tempestade e aparece uma pessoa te oferecendo um ombro amigo, a tendência é se jogar sem se preocupar com quem estamos nos abrindo.
Vale aqui pensar: - Tudo que você disser pode ser usado contra você no futuro. E realmente é assim.
Por fragilidade, por solidão ou por necessidade de desabafo, costumamos cometer o erro de falar demais e se expor demais para as pessoas erradas. 
Talvez porque eu seja escorpiana, não abro a minha vida para os outros. Este suposto “amigo/a” pode sair por aí falando besteiras sobre você e um dia isso vai parar nos seus ouvidos. Decepcionante, sim, mas evitável. Fato!
4 – Decepção no trabalho:
Trabalhei por quase dois anos em uma empresa japonesa com filial aqui na Alemanha. Eles estavam abrindo a firma e ninguém falava alemão no escritório a não ser dois funcionários: eu e uma engenheira japonesa. A comunicação interna era toda em inglês.
Eu participei de todo o processo de registro até o de implementação da empresa aqui na Alemanha. Procurei apartamento para o chefe, fiz inscrição dos filhos nas escolas, fazia os seguros, a contabilidade, as compras para o escritório, os pedidos para os fornecedores internacionais, participava de reuniões, enfim, eu era “pau pra toda obra”.
Aqui na Alemanha existe uma lei que se um funcionário trabalha mais de dois anos com contrato temporário, o chefe tem que efetivar este funcionário depois de dois anos. Eu estava na empresa há 1 ano e 11 meses, preparando os cartões de Natal para enviar para os clientes e funcionários. Perguntei para ele se meu contrato seria renovado já que estava no fim do ano. O chefe: - Não. Na maior frieza da face da terra!!!
Não preciso nem dizer tamanha a decepção que senti, depois de tudo que eu fiz por aquela empresa. Discutia preços, pedia descontos, controlava e economizava em nome da empresa. Sempre fui boa de lábia e consegui muitos contratos para ele na conversa via telefone.
Engoli o choro, comecei a arrumar as minhas coisas em uma caixa e disse que queria o certificado de trabalho para poder dar entrada no seguro desemprego. O cara sabia da tamanha injustiça que estava fazendo comigo, mas mesmo assim seguiu sem mover um músculo da cara: - Você receberá pelo correio.
5 – Decepção com os filhos:
Nenhum pai e nenhuma mãe cria seus filhos e pode ver o futuro. Uma vez eu falava sobre isso com minha mãe:

- Mãe, a mãe de um assassino ou de um ladrão não criou ele para ele ser assim como ele é.

Existem coisas que estão muito além da educação que a criança recebe, dos exemplos que ela tem em casa, do amor e carinho que ela recebe dos pais.

Minha mãe: - Isso é verdade, minha filha.

Eu: - A gente gera uma vida, cria até um determinado momento, mas o resto você não pode influenciar mais. Mesmo que para nós, mães, os filhos sejam sempre aos nossos olhos os nossos bebês…

6 – Decepção com a vida:
Este tipo de decepção pode ter fins trágicos como o suicídio, por exemplo. O desespero é tanto que a pessoa já não vê nenhuma saída a não ser dar um fim no que na opinião dela, não tem mais jeito… Essa pessoa perdeu o rumo na vida. Não vê mais sentido em nada e nem ninguém.

Entender aquilo que nos sufoca e tentar sair do buraco, ou até mesmo tentar por ínfima que seja, transformar aquela situação em algo novo… Pelo menos em um aprendizado. Essa é a maneira de não se perder o eixo e de se buscar coragem para mudar.

7 – Decepção como mulher ou homem:
Quem não gostaria de ser mais alto, mais magro, ter olhos verdes ou azuis, enfim de ser igual ou parecida com aquela garota de capa de revista que todo mundo admira e comenta a beleza? A beleza está nos olhos de quem vê. Ôh se está!

A esposa do Jaba do Star Wars acha ele lindo e é isso aí, ela que tem que achar ele lindo, não a sociedade. E toda, simplesmente, toda foto de revista é retocada.

Nenhuma dessas fotos sai purinha como muitos tolos pensam. Rola um monte de filtros, maquiagem, passar uma fome miserável, para sair como uma deeeeeeusa nessas fotos. Deus é bom, mas nem tanto assim kkkk. Tô brincando, chefe…

8 – Decepção dos sonhos não realizados:

Sempre quis aprender a andar de patins e nunca tive coragem. Já sentia dor na bunda só de olhar para um par na vitrine de uma loja. Eu aprendi a andar de bicicleta com 15 anos, já velha. Muitas coisas que sempre tive vontade de fazer e nunca tive coragem, estou tendo coragem agora, depois de velha.

Acho que é por causa do relógio biológico me dizendo internamente que em breve não vou poder mesmo fazer todas essas coisas por falta de condição física para isso. Então, se jogue e realize tudo que você sempre quis fazer enquanto ainda pode! A idade chega para todos e aí ó a vaca foi pro brejo, ou o brejo não existe mais ou a vaca morreu kkkk ;).

9 – Decepção nas redes sociais:
Mentiras sob mentiras nas redes sociais. Livrai-me de toda ruga e gordurinha do mal, meu Santo Photoshop kkkkk! Muita gente usa uma foto da época que usava fraldas ainda! Isso não vale, gente! Ou tem aqueles que colocam fotos de outras pessoas no perfil.

Se você quer encontrar um namorado, parceiro ou alguém para chamar de seu, não faça isso nas redes sociais, fique esperto, pois o príncipe pode ser sapo. Isso se ele não for um jirino!!!

10 – Decepção natalina (como já está próximo do Natal, resolvi incluir este item):
Esperamos o ano inteiro para colocar uma roupa bonita, se arrumar toda, fazer comida para um batalhão e isso tudo para celebrar o Natal ou Ano Novo em família. Há aquela expectativa de harmonia, de fartura, de recomeço e de felicidade. E o que acontece?

A mãe está estressada, porque o arroz queimou e não deu tempo dela fazer a unha dela. O avô cochila no sofá da sala dizendo que não quer barulho. A irmã vai para a casa do namorado, porque sabe que toda festa de família termina em estresse pré-programado.

Na hora do rango você esperou tanto que já nem está mais com aquela vontaaaaaade toda de comer pernil com farofa e um pudim de Leite Moça como sobremesa. Epa! Mas agora chegou a hora dos presentes! Presentes! Ding ding ding ding igual o jackpot de casino…

Todos sentamos em círculo na sala e começamos a troca de presentes. Você toda orgulhosa por ter comprado um presente bacana e fica esperando, que no mínimo, o seu presente seja bacana também… Eu odeio amigo-oculto por este motivo!

Uma vez dei um livro de presente e ganhei um presto-barba daqueles descartáveis. Eu abri o pacote e pensei:
- Tá de sacanagem com a minha cara!?
Ou será que a pessoa tá me achando cabeluda e fedorenta?

Summa summarum:

Decepções são forças propulsoras que te obrigam a iniciar um processo de mudança para melhor!


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E obrigada por visitar meu blog!!!

* Professora de Alemão  (Deutsch als Fremdsprache DAF, com certificado do MEC Ministério Alemão - BAMF-Zulassung) e Português para Estrangeiros (PLE na Universidade de Tübingen),  Licenciada em Letras Português e Alemão pela Universidade Federal Fluminense do Rio de JaneiroMestre em Filologia Românica pela Eberhard Karls Universität de Tübingen e Doutoranda em Translation Studies.



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